Como adaptações no ambiente podem melhorar a qualidade de vida dos felinos.
A ansiedade é o grande mal do século, atingindo a maior parte da população nos dias de hoje. A rotina corrida, acelerada e de longas jornadas de trabalho vêm fazendo com que as pessoas procurem cada vez mais pela companhia de um pet, devido aos seus benefícios e para compensar o estresse da vida moderna.
Com este panorama, os gatos vêm ganhando destaque no cenário mundial. De acordo com o IBGE, estima-se que, até o fim de 2022, a população de gatos possa chegar a 30 milhões de indivíduos. Todo esse crescimento populacional desperta nos tutores maior atenção e interesse em oferecer um ambiente mais confortável e prazeroso para o seu amiguinho. E como isso é possível? Através da gatificação.
Gatificação nada mais é do que adequar a casa ou apartamento, a fim de criar um ambiente rico em estímulos naturais para os felinos, os incentivando a exercer seus comportamentos instintivos de forma saudável e segura.
A prática da gatificação tem aumentado nos lares, com o intuito de reduzir o estresse desses animais que convivem em ambientes cada vez menores.
O estresse no gato pode não ser percebido de imediato e, até mesmo, não ser correlacionado com algumas patologias clínicas, pois seu mecanismo de defesa faz com que ele esconda sua fraqueza, dor ou doença como forma de sobrevivência. Seus agentes estressores podem ter origens fisiológicas, psicológicas ou ambientais. Nesse contexto, foram criados 5 pilares pela Sociedade Internacional de Medicina Felina, com o objetivo de atender ao bem-estar dos gatos e preparar o lar para satisfazer suas necessidades em expressar seus comportamentos instintivos:
1. Lugar seguro
Os gatos são predadores, mas também são presas!
Eles precisam ter um lugar onde se sintam seguros, protegidos e que não possam ser incomodados por nada e nem ninguém. Gatos gostam de ter seu momento de solidão. Um bom exemplo são toquinhas, esconderijos e lugares elevados, ou seja, verticalização. O uso de prateleiras permite criar um ambiente no qual os gatos possam escalar, se exercitando e se sentindo seguros, já que não podem ser alcançados por humanos ou outros animais. Nesse lugar, o felino não deve receber medicações, corte de unha, ser surpreendido enquanto dorme e nem receber carinho caso não esteja receptivo. Algo muito importante de se saber é que gatos não gostam de surpresas, mas por outro lado, amam uma rotina de atividades com constância.
2. Recursos ambientais
Os gatos setorizam seus ambientes e gostam de recursos múltiplos. Eles precisam ter um cantinho próprio para comida, que fique, de preferência, longe do cantinho da água. O banheiro, ou seja, as liteiras (caixinhas de areia), devem estar em local limpo e calmo (eles também gostam de privacidade neste momento). A cama deve ser confortável e do tamanho ideal para o gato. Toquinhas, esconderijos, redes, camas suspensas, arranhadores e brinquedos são ótimos recursos para o enriquecimento ambiental, proporcionando ao seu bichano explorar diversos materiais e texturas, trazendo ainda mais distração no seu dia a dia. O importante é que esteja tudo separado e multiplicado, principalmente se houver mais de um gato na casa. Isso fará com que não ocorra conflito entre eles.
3. Atividades típicas para a espécie
Quando livres na natureza, os gatos são responsáveis por obter seu próprio alimento. Ao contrário do que pensam, eles não são animais preguiçosos, porém o que acontece hoje em dia é a falta de interatividade entre o tutor e o gato. Os gatos devem ser estimulados a expressar seus comportamentos naturais da espécie. As brincadeiras predatórias são suas preferidas, mas é preciso ressaltar que nessas brincadeiras devem haver recompensas, como a captura do brinquedo ou peninha que está sendo usado na brincadeira, para que não ocorra frustração no animal. Afinal, se ele está caçando, ele quer capturar a presa!
4. Interações sociais positivas
Sabe aquele momento “Felícia”? Esqueça isso ao se tratar de gatos!
Quando o assunto é bem-estar dos felinos, esse ainda é um grande problema, pois não podemos esperar que ele expresse seus sentimentos como um cão. Os gatos são animais sociáveis, porém têm seus limites e suas restrições muito bem definidas. Quando esses limites são respeitados, cria-se um vínculo entre o felino e o tutor. Dessa forma, aja de forma previsível, avise seu gato que ele será tocado, fique na sua altura e espere que ele venha até você (estenda uma mão e deixe ele cheirar). Seu bichano precisa saber que você não é uma ameaça para ele. Não faça movimentos bruscos, não fale alto e nunca force uma interação.
Se seu gato se afastar de você, respeite-o. Cada gato tem seu lugar preferido de receber carinho, descubra o do seu amigo para, assim, fortalecer o vínculo entre vocês, e lembre-se: evite tocar a sua barriga, pois é um lugar de muita fragilidade para os gatos, causando desconforto nos mesmos.
5. Respeitar a importância do olfato
Talvez esse seja uns dos mais importantes pilares! O gato tem o olfato de 20 a 50 vezes mais aguçado que o dos humanos, e essa capacidade permite que eles avaliem o ambiente onde estão através de informações olfativas e químicas. Eles se sentem mais seguros quando reconhecem suas marcas. O olfato dos gatos também possibilita identificar, por meio dos feromônios, se há outros indivíduos naquele local, quem são, o sexo etc. Quando seu olfato é comprometido, pode desencadear comportamentos de medo, desconfiança e insegurança. O ideal é evitar produtos de limpeza com odor forte e pedras sanitárias com perfume. Pode-se fazer o uso de recursos olfativos para o bem-estar dos gatos através de feromônios sintéticos em forma de spray ou difusores, principalmente quando há conflitos em casa com mais de um animal, ou quando houver a introdução de um novo gato no lar.
Em algumas situações, quando há uma grande quantidade de gatos no mesmo ambiente, o uso dos cinco pilares pode se tornar difícil e até mesmo um desafio em ser implementado, mas é importante saber que essa estruturação é essencial para um bom convívio e bem-estar dos gatos. A implementação desses pilares favorecerá a saúde física e mental de seu bichano e irá minimizar, ou até erradicar, a ocorrência de conflitos e comportamentos indesejados. Mas, como toda regra tem sua exceção, é sempre recomendado o acompanhamento de um Médico-Veterinário ou um especialista em comportamento felino. Cada gato é único e sua necessidade pode não ser igual a dos demais.
Co- Autora: Jocemara Kelly Pereira de Moura - Assistente Centro de Pesquisa da Special Dog Company