Saiba como identificar alterações nas mamas no seu pet e prevenir o avanço dos tumores de mama.
Os tumores de mama têm sido frequentemente diagnosticados em espécies caninas e felinas, sendo o tumor mais comum em cadelas e o terceiro mais comum em gatas. A maioria dessas neoplasias é maligna e pode estar associada à mortalidade, o que justifica a preocupação dos oncologistas veterinários quanto à rapidez no diagnóstico e estratégias terapêuticas para possibilitar eficácia no tratamento e proporcionar longevidade ao seu pet.
Como detectar o tumor de mama em cães e gatos
Nas mulheres, o autoexame é aconselhado a ser feito com frequência para detectar qualquer tipo de alteração e recorrer ao oncologista o quanto antes. No caso das fêmeas caninas e felinas, o tutor deve sempre estar atento, conhecer seu animalzinho e aproveitar as brincadeiras para acariciá-los e examiná-los. Ao sinal de qualquer alteração, seja nódulos, temperatura local, edema, inflamação, ulceração etc. leve imediatamente ao médico-veterinário. Também devemos nos atentar aos sinais de emagrecimentos acentuados e sem motivo, sangramentos inexplicáveis, dificuldade em mastigar ou deglutir, odores incomuns, feridas que não cicatrizam, dificuldades para respirar, urinar ou defecar e nódulos pelo corpo.
Para um melhor diagnóstico veterinário, a avaliação clínica e exame físico dos cães e gatos são muito importantes. Os tumores mamários se manifestam como nódulos únicos ou múltiplos nas mamas e podem ser detectados durante a palpação de todos os 5 pares de glândulas mamárias. Nos felinos, pelo menos 80% dos tumores mamários são malignos, o que justifica a importância do diagnóstico precoce para sobrevida do animal e diminuição das chances de metástases.
Exames e tratamento de tumores mamários
Radiografias e ultrassom abdominal são sempre recomendados para cães e gatos com tumores mamários, pois a detecção de metástases tem um impacto importante no tratamento dos pets. Cada nódulo deve ser avaliado individualmente, uma vez que existem diferentes tipos histológicos e variado comportamento tumoral.
A avaliação histopatológica (biópsia) é sempre recomendada e fundamental para todos os casos. Em geral, é realizada após a cirurgia e não avalia apenas o tumor primário mas todas as glândulas mamárias, incluindo os linfonodos e área de transição entre o tumor e os tecidos adjacentes.
Após o diagnóstico de tumor mamário, é importante estabelecer um cronograma de reavaliações, a fim de detectar e acompanhar o desenvolvimento da doença. Esta reavaliação inclui exames hematológicos (hemograma completo e exames bioquímicos) para avaliar o estado geral do paciente e possíveis síndromes paraneoplásicas, além de exames de imagem, entre outros. O protocolo indicado é a reavaliação a cada dois meses nos primeiros seis meses após o diagnóstico, e a cada três meses entre seis e 24 meses. O tamanho do tumor, seu tipo histológico, grau histológico e metástases são fatores prognósticos bem estabelecidos para espécies caninas e felinas.
A retirada dos tumores através de cirurgias é o tratamento de escolha para quase todos os cães e gatos. Esta técnica tem sucesso quando os pets não apresentam metástases, quando não há envolvimento do sistema linfático e quando os tumores são menos agressivos. No entanto, a remoção do tumor não é recomendada para cães e gatos com carcinoma inflamatório, o qual pode comprometer outros órgãos. A cirurgia para os pets com metástase não aumentará sua sobrevida, mas pode aumentar a qualidade de vida de pacientes com lesões ulceradas e dolorosas. Lembrando que o médico-veterinário responsável indicará o melhor tratamento para seu paciente.
E a quimioterapia nos pets?
A quimioterapia adjuvante nos pets nem sempre é recomendada. Na verdade, o real benefício do tratamento sistêmico deve ser avaliado. Essa avaliação é baseada no tipo do tumor, grau, estágio clínico e fatores prognósticos, intitulados pelo médico-veterinário. As fêmeas com diagnóstico de câncer de mama agressivo são comumente tratadas com quimioterapia adjuvante na tentativa de prevenir ou retardar o desenvolvimento de metástases, mas informações relatadas na literatura veterinária sobre a eficácia da quimioterapia adjuvante no controle do câncer mamário ainda são discutidas, praticamente não havendo relatos sobre os efeitos da quimioterapia neoadjuvante ou mesmo da radioterapia como tratamento complementar à cirurgia.
Métodos de prevenção
A castração ainda é o principal método de diminuir a incidência do tumor de mama, afinal os tumores estão ligados à presença de alguns hormônios. Porém, as pesquisas mais recentes apontam que a castração precoce tem efeitos adversos em cães, incluindo incontinência urinária, maior risco de outras neoplasias como osteossarcoma, linfoma, tumor de mastócitos, distúrbios musculoesqueléticos, como displasia do quadril, ruptura do ligamento cruzado, entre outros. No entanto, características específicas de cada raça e epidemiologia da doença devem ser consideradas no processo de tomada de decisão, avaliando os benefícios e riscos da castração precoce. Para cães, novos estudos sugerem que a castração antes do primeiro cio deve ser evitada e que deve ser realizada entre o primeiro e o segundo cio, quando o objetivo principal é a prevenção da neoplasia mamária ao invés do controle populacional. Nos felinos é indicada a castração precoce, de seis a doze meses de idade, reduzindo o risco de tumores mamários. Há uma redução de 91% no risco de desenvolver câncer mamário em gatas castradas até seis meses de idade, uma redução de 86% em gatas castradas até um ano de idade e uma redução de apenas 11% quando a castração é realizada entre 13 e 24 meses de idade. Além da castração, outra forma de prevenção é a não administração de anticoncepcionais, que infelizmente ainda é uma prática comum no Brasil. Atualmente, os anticoncepcionais são os maiores causadores de tumor de mama nas fêmeas felinas e caninas. Muitos tutores aplicam anticoncepcionais em seus pets a cada quatro meses, e estudos mostram que esse animal vai desenvolver câncer mamário em alguma fase de sua vida.
A importância de uma boa nutrição
A nutrição dos pets com neoplasias não é o tratamento principal dos tumores, mas uma excelente nutrição promove qualidade de vida e aumenta o tempo de sobrevivência destes pacientes que estão em caquexia devido à doença. Os animais diagnosticados com tumores mamários podem apresentar perda de peso progressiva, perda de massa magra e distúrbios no metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídeos, resultando em atrofia da musculatura esquelética, diminuição da síntese de ácidos graxos e triglicérides. Diante disto, a intervenção nutricional precoce e o acompanhamento nutricional são essenciais para auxiliar na recuperação ou manutenção do animal necessitado.
Uma estratégia nutricional importante é o fornecimento de uma dieta rica em proteínas e lipídeos de alta digestibilidade e baixa em carboidratos, uma vez que a glicose é o principal substrato para o desenvolvimento do tecido tumoral. Podemos aumentar as proteínas de ótima qualidade para manutenção ou até mesmo ganho de peso pelo paciente. Alguns aminoácidos são importantes, como a leucina que tem papel importante na regulação da síntese protéica muscular e a glutamina, considerada o melhor substrato energético para as células do sistema imune e pela sua função na prevenção de efeitos colaterais à quimioterapia.
O ômega-3, composto pelo EPA e DHA, é importante ao organismo dos pets e exerce papel antitumoral. Ele não pode ser sintetizado sozinho, portanto deve ser oferecido na alimentação. O EPA age principalmente na redução da caquexia, enquanto o DHA demonstrou em estudos atividade na diminuição tumoral, redução no crescimento dos tumores, sensibilização de células neoplásicas à quimio e à radioterapia, entre outros. Algumas excelentes fontes de ômega 3 são algas marinhas e óleos de peixes.
A vitamina E é capaz de inibir a formação de células cancerígenas em tumores de mama e em linfomas agindo na interrupção do ciclo celular e induzindo a morte celular. A vitamina A pode agir reconhecendo e bloqueando a fase inicial dos tumores mamários, assim prevenindo o aumento de células com características malignas. A vitamina C é um antioxidante visto em estudos que protegem as células sadias contra os efeitos das drogas antineoplásicas. A vitamina D é de extrema importância na prevenção de doenças crônicas, incluindo o câncer. O selênio é um mineral muito estudado nos últimos anos para prevenção do câncer, uma vez que ele tem alto mecanismo antioxidante.
O intestino com microbiota saudável também contribui para prevenção de muitas doenças. Assim, os probióticos e prebióticos têm grande importância nos estudos recentes sobre o câncer de mama. Um intestino saudável inibe a progressão tumoral, produzindo componentes com ação antineoplásica, além de modular a resposta imunológica, garantindo imunidade aos pacientes. Sendo assim, as dietas saudáveis podem oferecer melhor qualidade de vida aos pets diagnosticados com tumores de mama e outros tumores. Por isso, é dever do médico-veterinário instruir os tutores para que tenham o melhor manejo alimentar possível, garantindo benefícios e mais longevidade aos pets.